_ Já experimentou o sentimento de culpa? Recorda-se do peso que sentiu? De ficar como que paralisado, como se nada o pudesse tirar dali, desse sítio escuro e pesado? É de facto o efeito que a culpa tem em nós, ela paralisa, bloqueia, impede o avanço, dificulta a reparação.
Sim, porque muitas vezes fizemos de facto coisas erradas, magoámos pessoas, fomos rudes ou negligentes, procrastinámos, não cumprimos os nossos objectivos por desleixo ou falta de organização, ou falta de motivação; e sim, de facto fomos nós os agentes, éramos nós que estávamos lá, a bola estava nas nossas mãos. Mas a questão é: somos culpados ou somos responsáveis? E poderá até parecer-vos redundante, poderão dizer-me “dá tudo no mesmo”. Mas sugiro que experimentem. De cada vez que derem por vocês a dizer “eu sou culpado” ou “a culpa é minha”, experimentem logo de seguida mudar para “eu sou responsável”, “a responsabilidade é minha”, e fiquem um bocadinho a olhar para vocês mesmos, não com os olhos de fora mas com os olhos de dentro, e apercebam-se se alguma coisa muda na forma como o vosso corpo reage, como o vosso corpo sente estas frases. O peso é o mesmo, ou há algo de diferente, talvez mais leve? Continuam a sentir aquela paralisia ou parece que a informação flui melhor, que é mais fácil sair daquele sítio escuro e doloroso onde caímos quando nos desiludimos connosco mesmos? A diferença entre a culpa e a responsabilidade é que a culpa paralisa enquanto a responsabilidade mobiliza. O culpado fica estagnado no erro, a remoê-lo, a martirizar-se, sem conseguir sair dali. O responsável olha para o erro, tenta compreendê-lo, e percebe ainda que se foi responsável por ele, também é responsável pelo reparo, ou pela mudança. O culpado desespera quando vê como a sua casa está desarrumada e fica a maltratar-se por ter deixado chegar a este ponto, o responsável entristece-se com a desarrumação a que se permitiu chegar, mas agarra em si próprio e começa peça a peça a arrumar. Quando der por si a fazer coisas recorrentes de que não gosta, de que se ressente, obrigue-se a fazer esta mudança, transforme a culpa em responsabilidade, dê-se espaço e estímulo para reparar o erro, para mudar. E não se apresse demais, as mudanças e as reparações levam o seu tempo.
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_ Mahatma Gandhi identifica 7 erros da humanidade:
Riqueza sem trabalho; Prazer sem consciência; Conhecimento sem carácter; Comércio sem moralidade; Ciência sem humanidade; Adoração sem sacrifício; Política sem princípios. De forma semelhante, o professor e psicoterapeuta António Branco Vasco identifica 7 pares de necessidades psicológicas vitais, para as quais deixo o alerta: (Prazer - dor) Procura o prazer, mas tolera a dor e percebe o seu significado; (Proximidade - Autonomia) Equilibra-te entre a proximidade e a autonomia; (Produtividade - Lazer) Investe nas coisas, produz, mas não te esqueças de o complementar com momentos de lazer, relaxamento; (Controle - cedência) Controla o que está ao teu alcance, mas não te esqueças de ceder quando é preciso; (Actualização/Exploração - Tranquilidade) Procura o novo, actualiza-te, sem descurar a tranquilidade de desfrutar do que já é teu; (Coerência do self - Incoerência do self) Procura ser coerente contigo próprio, sabendo ao mesmo tempo tolerar incoerências ocasionais; (Auto-estima - Auto-crítica) E estima-te sempre, mas identifica os teus erros e tolera e aprende com as tuas insatisfações pessoais. _ Assertividade é um conceito que tem ganho relevo nos últimos anos, mas apercebo-me que nem sempre é bem interpretado.
De uma forma simples, assertividade é a capacidade social de afirmar os próprios direitos não violando, ao mesmo tempo, os direitos dos outros. Tenho contudo a sensação que uma amostra significativa de pessoas apreendeu bem a parte da afirmação dos direitos do próprio, mas como que apagou o lado que contempla o respeito pelos direitos dos outros, e portanto associa assertividade a uma postura egoísta e arrogante, chegando a comentar “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”. O que é afinal a assertividade? Eu gosto de a colocar num contínuo entre os polos da passividade e da agressividade. Se delinearmos uma linha com a passividade num extremo e a agressividade no outro, o comportamento assertivo passeia-se por esta linha, por vezes aproxima-se mais de um extremo, por vezes mais do outro, mas nunca chega a atingir nenhum dos polos, nem fica indefinidamente na mesma posição. O que é que justifica a mudança de posição na linha? A situação. A assertividade envolve expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira directa, clara, honesta e apropriada ao contexto. Ou seja, num contexto tranquilo, sem grandes ameaças à minha identidade, aos meus direitos, o comportamento adequado (assertivo) aproxima-se mais do polo da passividade, numa postura receptiva, de permissão da proximidade do outro, com as defesas em baixo; num contexto hostil, em que os meus direitos são ameaçados e a minha identidade é desrespeitada, o comportamento adequado (igualmente assertivo porque de acordo com a situação) aproxima-se mais do polo da agressividade, em que as minhas defesas estão alerta e coloco limites à proximidade do outro no sentido de me proteger. Mas voltemos ao comentário “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”. O que é que isto pode significar? Das duas uma, ou não estou a ser assertivo, numa postura de defender os meus direitos mas já de uma forma agressiva por não estar a contemplar os direitos do outro, ou estou perante um outro particularmente frágil, que se sente atacado sem o ser e que responde de volta atacando. Um terceiro cenário, para o qual peço especial atenção, é uma combinação dos dois, em que o outro se sente atacado não o sendo, eu me ressinto do ataque dele em resposta, e respondo eu atacando também. Neste jogo de lutas não se preocupe em perceber quem começou, assuma a coragem de lhe por um ponto final, protege-se a si e ao outro, aí então está a ser assertivo. _Assertividade é a capacidade social de afirmar os próprios direitos não violando, ao mesmo tempo, os direitos dos outros. Comumente está associada a uma postura intermédia entre a passividade e a agressividade, no entanto, a assertividade envolve expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira directa, clara, honesta e apropriada ao contexto. Neste último sentido, uma postura assertiva implica a flexibilidade de nos movimentarmos entre maior passividade ou maior agressividade consoante a situação requer e desde que nem os nossos direitos nem os direitos dos outros estejam a ser desrespeitados. _ (adaptado da Wikipédia)
A importância do afecto
Neste dia de S. Valentim, estejamos ou não enamorados, que possamos reflectir sobre o espaço que damos na nossa vida às relações com aqueles que nos são próximos/importantes, o espaço que damos ao dar e receber afecto. E este binómio é muito importante, investir apenas no dar ou apenas no receber desequilibra as relações, empobrece-as. Com o tempo, o risco é que o que só dá comece a sentir-se pesado de carregar a relação há tanto tempo, desvitalizado; e o habituado a só receber corre o risco de não perceber a mudança e ter dificuldade em se adaptar à nova necessidade de também dar. Mas voltemos à questão inicial, quanto espaço se dá na sua vida para investir, alimentar as relações? Quanto tempo se dá para tomar café com amigos? Quanto tempo se dá para fazer actividades em família? Quanto tempo se dá para contar a um outro significativo o seu dia, as suas alegrias, as suas frustrações? Quanto tempo se dá para ouvir o dia, as alegrias e as frustrações deste mesmo outro? Quanto espaço se dá para reflectir sobre como está a sua relação amorosa, as suas relações sociais, as suas relações familiares? E quando percebe que alguma coisa está a mexer consigo de uma forma desagradável, quanto espaço se dá para perceber o que é que se passa, onde é que mexe, o que é que significa? Quão disponível está para dar afecto, colo? Quão disponível está para os receber? Diz-nos Sidney Blatt, um investigador que há vários anos estuda o binómio autonomia e proximidade, que o desenvolvimento saudável da nossa individualidade é favorecido por um desenvolvimento saudável da nossa capacidade de nos ligarmos aos outros. Não descuremos então a importância do afecto. Disponibilizemo-nos para a dança do dar e receber. _ Eu sei, eu sei, dois grandes palavrões; mas passo a apresentá-los.
De uma forma simplista, poderíamos dizer que há duas motivações base para procurar terapia: “Ajude-me a voltar a ser o que era”, ou “Não gosto da minha vida, ajude-me a mudá-la”. O primeiro discurso é o discurso do Sr. Homeostase, que procura recuperar o equilíbrio inicial, voltar ao estado de base; o segundo discurso é o discurso do Sr. Homeogénese, que também procura equilíbrio, mas integrando as novas exigências/desafios e as novas conquistas numa nova versão de si. De certa forma o Sr. Homeoestase anda à procura de recuperar o passado, e o Sr. Homeogénese anda a tentar preparar-se para o futuro. Ao Sr. Homeoestase eu tenho o cuidado de alertar que voltar ao que era implica continuar vulnerável ao tipo de coisas que o trouxeram ao que está hoje. Ao Sr. Homeogénese eu tenho o cuidado de sensibilizar para o risco de perder o rumo caso não integre o que ficou para trás. Com qual dos senhores gosto mais de trabalhar? Eu cá confesso que eu gosto mesmo é quando eles se cruzam na sala de espera e começam a trocar ideias. Porque é quando me chegam preparados para integrar o passado numa narrativa presente que os ajude a construir um futuro diferente, que eu sei que chegaremos a bom porto. _ A psicologia ocidental preconiza, tradicionalmente, o desenvolvimento da autonomia, independência e identidade individual, em detrimento do relacionamento com os outros; o contrário é atribuído às culturas não ocidentais.
Sidney Blatt, ao longo de vários anos de estudo, articulando conhecimento das áreas da biologia, antropologia e psicologia, tem vindo a mostrar que a individualidade e o sentido de ligação aos outros se desenvolvem de forma interligada, em que níveis mais elevados de desenvolvimento pessoal possibilitam níveis mais elevados de ligação interpessoal e vice-versa. Defende Blatt que o desenvolvimento de uma personalidade saudável implica uma ênfase complementar e equitativa entre a individualidade e a ligação aos outros, e isto tanto nos homens como nas mulheres. É necessário desenvolver um sentido de identidade mais abrangente, que inclua tanto um sentido estável e realista de si como eficaz e competente, como a capacidade de se relacionar com os outros de forma mútua, recíproca e íntima. Não descure uma esfera em detrimento da outra, invista nas duas, até porque o desinvestimento de uma delas prejudica o desenvolvimento saudável da outra. Deixo-vos o link para uma conferência TED de uma neurocientista que estuda os processos neuronais associados à meditação e que deixa uma ideia muito interessante sobre como podemos promover o nosso bem-estar.
A ideia é que as qualidades psicológicas, como a generosidade, o cuidado, a perseverança,… não são características que ou temos ou não temos, mas são sim hábitos mentais que podemos cultivar, praticar momento-a-momento. O nosso bem-estar não tem tanto a ver com termos tudo aquilo que queremos mas muito mais com o que habituamos o nosso cérebro a processar, a forma como programamos o nosso cérebro para nos ver a nós próprios e ver os outros e o mundo. Se pensarmos na tendente facilidade com que identificamos os nossos defeitos e na dificuldade com que identificamos as nossas qualidades, percebemos como a cada momento alimentamos o nosso cérebro a ver-nos de forma negativa. Nós podemos tornar-nos as pessoas que admiramos, treinando/praticando as qualidades que apreciamos. __ Recentemente li o livro A traição do Eu: O medo da autonomia no homem e na mulher de Arno Gruen, e apercebi-me como de facto tendemos a gerir as nossas vidas de acordo com uma ideia de autonomia incongruente com o que ela realmente implica.
Segundo o autor, “a autonomia é o estado de integração em que uma pessoa se encontra em plena concordância com os seus sentimentos e as suas necessidades. (…) Da autonomia faz parte a capacidade de ter um Eu alicerçado no acesso a sentimentos e necessidades genuínos.” (págs. 17 e 18). Paradoxalmente, geralmente associamos a pessoa autónoma à pessoa independente, controlada, bem adaptada socialmente, por muito que esta pessoa possa não reconhecer qualquer sentimento de tristeza, zanga, medo, ou qualquer necessidade de proximidade, de conforto. Ao colocarmos este peso na ideia de autonomia, colocamo-nos necessariamente em conflito entre um Eu ideal (supostamente autónomo porque independente e controlado), favorecido pela sociedade ocidental actual, e o Eu real (genuinamente autónomo, mas não reconhecido socialmente como tal), que por vezes tem dores, que tem fragilidades, que precisa de proximidade e de conforto. Estranhamente, este é o Eu socialmente rotulado como fraco e dependente. Assim, quando puxamos o suposto lado da autonomia (portanto o independente e controlado), reprimimos a possibilidade de satisfação no contacto com a nossa realidade interna e a possibilidade de conforto na interdependência (no equilíbrio entre a proximidade e o isolamento). Criamos a fantasia que ou somos “autónomos” e fortes ou somos dependentes e fracos, sem percebermos que proximidade e autonomia não são incompatíveis, eu não preciso de me isolar para ser autónomo e posso retirar conforto na proximidade sem me tornar dependente. É muito importante percebermos que a nossa saúde mental não passa por nos adaptarmos às expectativas dos outros negligenciando-nos a nós próprios; a nossa saúde mental passa por encontrarmos, mantendo-nos próximos aos outros, um espaço para reconhecermos e cuidarmos das nossas emoções e necessidades. |
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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