Deixo links para a curta-metragem de animação Skhizein de Jérémy Clapin (2008).
Vencedora de vários prémios, a animação explora a vida de um rapaz que se sente a 91cm do seu próprio corpo. Será este um fenómeno de despersonalização? Uma curta que nos deixa a pensar. Deixo um link com legendas em inglês. Deixo outro com legendas em português mas com algumas falhas.
0 Comments
No programa da RTP2 Onda-Curta passaram uma curta-metragem intitulada “Tout le monde dit je t’aime” (Toda a gente diz amo-te) que reflecte de uma forma muito interessante sobre o significado do amor aos 16 anos.
E fui ficando a questionar-me: O que é isto do amor? Como é que se lida com o “amo-te”? O giro da curta é que mostra duas adolescentes com perspectivas muito diferentes do “amo-te”: uma que acredita que a expressão tem significado e é forte, a apaixonada, que vive ela própria este sentimento; e a descrente, a quem nunca o disseram, e que defende que “amo-te” é como uma palavra mágica – não significa nada, toda a gente o diz, e ainda por cima tem a particularidade de encurralar, afinal de contas o que é que se responde a um “amo-te”que não seja “eu também”? E depois quando é que se pára? Temos que dizer “amo-te” para sempre? Como é que se sabe que se ama? Quando é que faz sentido dizê-lo? Há um tempo mínimo antes do qual é parvoíce? E se se espera demais? Não tenho resposta a estas questões. O que tenho é a imagem destas duas adolescentes a seguirem direcções opostas e a gritarem “Eu amo-te” uma à outra, à medida que se afastavam, com um sorriso, um prazer que transbordava por todo o corpo. E a realidade é que parece que, mais do que um pensamento, e estejamos nós a dizê-lo ou a recebê-lo, “amo-te” é um sentimento que percorre todo o nosso corpo com um misto de aperto e de euforia. “Amo-te” lê-se no corpo mais do que na mente. E é de facto mágico, como dizia a descrente, mas um mágico diferente, tão mágico que alguns o tememos, muitos o desacreditamos, mas todos nos deliciamos quando o recebemos daqueles que também nós amamos. “Não consigo lidar com o facto de se lhe expressar o que sinto vou magoá-lo/a”
A ideia de que expressar emoções desagradáveis ao outro, sobre o outro, implica magoá-lo é algo que os meus pacientes me trazem com frequência para as sessões. A possibilidade de magoar o outro é tão aversiva que parece haver uma preferência por anular a expressão das próprias emoções, mesmo que isso acarrete incoerência e sofrimento para o próprio. Esta dificuldade dos meus pacientes em serem coerentes com as suas emoções no relacionamento com os outros mexia particularmente comigo e debrucei-me a reflectir sobre o que é que me desconcertava nesta dificuldade tão comum. Comecei então a pensar, o que é isto de magoar o outro? Quando é que magoamos o outro? Magoar parece-me implicar uma certa desconsideração, uma forma descuidada de tratar o outro, seja no adoptar de uma postura agressiva, ou no adoptar de uma postura negligente. Diria que magoar implica não considerar o outro na equação. E a realidade é que não era isto que eu via tendencialmente nos meus pacientes, pelo contrário, parecia-me que equacionavam tanto o outro que se esqueciam de si próprios. E comecei a pensar… será de facto que magoamos os outros quando partilhamos, de uma forma cuidada, as nossas opiniões divergentes ou as nossas emoções menos agradáveis perante eles? E surgiu-me esta diferença: magoar ou entristecer? Se me apontam características menos positivas minhas, eu fico triste; se me dizem “já não sinto por ti o que sentia”, eu fico triste; se não partilham a mesma opinião que eu sobre um tema que me é querido, eu posso ficar triste também; mas magoada? Quando, por tanto engolirem o que pensam a meu respeito, explodem um dia e me mostram os meus defeitos de forma agressiva, eu fico magoada; quando me dizem “gosto de ti da mesma forma” mas toda a expressão não verbal, nomeadamente o afastamento ou a irritação, mostra o contrário, eu fico magoada; quando, por terem uma opinião diferente da minha num tema importante para mim, criticam a minha opinião de forma desrespeitosa, eu fico magoada. A diferença não está em expressar ou ocultar o que sentimos, a diferença está no cuidado que temos perante o outro quando o expressamos. E talvez alguns me possam dizer: “mas eu também não quero entristecê-lo/a”. Eu aí diria que podermos dar atenção às nossas tristezas e ficar a dar-lhes algum colo quando surgem é essencial para arrumarmos as nossas dores e podermos então abrir-nos a novas possibilidades. Por outro lado, ao ocultar verbalmente o que a nossa expressão corporal não consegue esconder, podemos estar já a magoar. Para o terapeuta, é uma nova aventura que começa. Ele diz: "Aqui está esta outra pessoa, o meu paciente. Sinto um pouco de receio por ele, medo de penetrar nos seus pensamentos, tal como tenho medo de mergulhar nos meus. No entanto, ao escutá-lo, começo a sentir um certo respeito por ele, a sentir que somos próximos. Pressinto quão terrível se lhe afigura o seu universo, com que tensão procura controlá-lo. Gostaria de apreender os seus sentimentos e que ele soubesse que eu os compreendo. Gostaria que ele soubesse que estou perto dele no seu pequeno mundo compacto e apertado, capaz de olhar para esse mundo sem excessivo temor. Talvez eu o possa tornar menos temível. Gostaria que os meus sentimentos nesta relação fossem para ele tão evidentes e claros quanto possível, a fim de que ele os captasse como uma realidade discernível a que pode regressar sempre. Gostaria de acompanhá-lo nessa temerosa viagem ao interior de si mesmo, no seio do medo nele fixado, do ódio, do amor pelo qual ele nunca foi capaz de se deixar invadir. Reconheço que é uma viagem muito humana e imprevisível, tanto para mim como para ele e que eu me arrisco, sem mesmo saber que tenho medo, a fechar-me em mim próprio perante certos sentimentos que ele revela. Sei que isso me impõe limites na minha capacidade de ajudar. Torno-me consciente de que os meus próprios temores podem levá-lo a encarar-me como um intruso, como alguém indiferente e que deve rejeitar, como alguém que não compreende. Tento aceitar plenamente esses seus sentimentos, embora esperando também que os meus próprios sentimentos se revelem de maneira tão clara na sua realidade que, com o tempo, ele não possa deixar de se aperceber deles. Mas, sobretudo, pretendo que ele veja em mim uma pessoa real. Não tenho necessidade de perguntar a mim mesmo com constrangimento se os meus sentimentos são "terapêuticos". O que eu sou e aquilo que sinto pode perfeitamente servir de base para a terapia, se eu puder ser transparentemente o que sou e o que sinto nas minhas relações com ele. Então talvez ele possa ser aquilo que é, abertamente e sem receio". Carl Rogers In Tornar-se Pessoa
|
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
Ou receba cada novo post no seu e-mail introduzindo o seu endereço de e-mail abaixo
|