Na minha prática clínica tenho-me apercebido como para muitos a compaixão é um sentimento tido como menos nobre, especialmente quando trabalho com os meus pacientes no sentido de os ajudar a desenvolver compaixão pelas suas próprias vulnerabilidades, por aquilo que tendem a ver como os seus defeitos. E de facto este desafecto pela compaixão deixa-me sempre a pensar.
O que é que causa esta antipatia pela compaixão? Como é que a compaixão se tornou algo aversivo, a rejeitar? E surgiu-me… será pelo que a compaixão sinaliza? A compaixão sinaliza fragilidades, dificuldades, aspectos em que se é mais vulnerável, e que são muitas vezes os aspectos que queremos esconder de nós próprios. Sentir compaixão pelas nossas fragilidades implica assumi-las, e quando ao longo do nosso desenvolvimento não nos foi dado espaço, permissão, compreensão pelos nossos erros, pelas nossas falhas, pelas nossas sensibilidades, aprendemos que elas são algo a combater e não a abraçar e acarinhar. E ficamos num conflito interno, por um lado é duro e exigente o discurso aprendido de “tens que ser sempre forte, não podes falhar, tens que dar sempre o teu melhor, superar as tuas capacidades”, por outro ele está tão enraizado que é difícil abrir espaço para de facto acarinhar os nossos lados mais frágeis, dar-nos colo nos momentos mais difíceis, saber dizer “isto é o que eu consigo fazer neste momento, tendo em conta o contexto e a minha própria história, e eu não tenho que me criticar por isso, pelo contrário, este é um aspecto tão sensível para mim, que me custa tanto, que eu preciso mesmo é de aceitação, compreensão, compaixão”. É de facto impressionante como muitas vezes somos nós próprios os nossos maiores críticos, e como nesta crítica, nesta dificuldade em aceitarmos que erramos, que temos aspectos em que somos mais frágeis, acabamos por nos impedir de aceitar o colo, a compaixão que poderia ser reparadora. Porque se olharmos para trás, para a nossa história, percebemos que a compaixão das pessoas significativas da nossa vida durante o nosso crescimento foi precisamente o que nos faltou e que nos trouxe a esta hipercrítica com os nossos “defeitos”. Criticamo-nos geralmente porque achamos que essa é a forma de nos incentivarmos a mudar e tememos que ao sentir compaixão nos resignemos. O que não percebemos é que ao combater a compaixão e insistir na crítica, estamos na realidade a lutar contra o antídoto, o remédio curativo que poderia de facto potenciar mudança. Porque aceitação não é sinónimo de resignação, e só na medida em que aceito onde estou e o que consigo é que abro espaço psicológico para crescer, para me desfocar do que não sou capaz, reconhecer aquilo em que sou bom e potenciar a mudança a partir daí. Poderá não ser fácil, a crítica às vezes é muito forte, mas experimente sentir compaixão pelos seus lados mais frágeis, aceitar as suas vulnerabilidades, verdadeiramente, sabendo que de início pode ser difícil, mas é na realidade o remédio reparador.
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Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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