Esta semana numa sessão surgiu a importância de escolhermos as nossas batalhas. Tendemos a achar que nos devíamos afirmar e defender em todas as situações, sem reconhecer os riscos desta postura. Quando luto em todas as frentes que se me deparam, disperso-me, desgasto-me, perco em eficácia, e frustro-me e desmoralizo com as demasiadas derrotas que vão inevitavelmente surgir. Por sua vez quando escolho as minhas batalhas, abrindo mão das que não são prioritárias, foco-me e invisto no meu objetivo, avalio melhor o que é necessário para ter sucesso e estabeleço a minha estratégia, torno-me mais eficaz, tenho menos derrotas a desmoralizar-me, venço mais, e aumento a minha auto-confiança e sentido de auto-eficácia. Por outro lado, muitas vezes a nossa necessidade de nos afirmarmos está assente numa necessidade de mudarmos o outro ou a sua perspetiva, e recriminamo-nos por não termos sido suficientemente firmes e eloquentes na nossa argumentação, acreditando que poderíamos mudar o outro (e vencer a nossa batalha) se o tivéssemos sido. Se é verdade que a segurança e eloquência de uma argumentação tem o potencial de tocar o outro e alterar a sua perspetiva ou a sua atitude, tendemos a desvalorizar o papel do recetor no sucesso desta demanda, e a realidade é que a nossa afirmação só toca o coração do outro se ele estiver disponível para ser tocado. O que isto implica é que a maior parte das batalhas que travamos caem em saco vazio ou escalam para uma luta de poder em que ambos os lados querem convencer o outro mas nenhum está disponível para ser convencido. No fim, gastámos uma quantidade imensa de energia numa demanda inútil e desmoralizadora. Na base deste fenómeno está a premissa bem conhecida dos psicólogos, que lutamos diariamente para incutir nos nossos pacientes (é a nossa batalha), de que não temos o poder de mudar os outros, apenas de nos mudarmos a nós próprios. Curiosamente, recentemente vi um vídeo da Esther Perel, uma terapeuta de casal, que vai um bocadinho além e diz qualquer coisa como – mudamos o outro mudando-nos a nós. E conciliando ambas as ideias – a maior parte das batalhas são infrutíferas, mudamos os outros mudando-nos a nós – tenho cada vez mais a sensação que tanto mais mudamos o outro quanto menos batalhamos para o mudar. Se eu mudar a minha postura combativa para uma postura mais aceitante do outro e/ou da minha incapacidade de o mudar, crio mais espaço, potencialmente, para o outro processar as suas coisas ao seu ritmo e direcionar os seus recursos para repensar a sua atitude mais do que se defender. Experimente, por exemplo, numa discussão em casal ou com um familiar ou um amigo, desculpar-se por aquilo em que magoou o outro, em vez de se queixar daquilo em que o outro o magoou. Vai notar que frequentemente o outro vai aceitar as suas desculpas e desculpar-se também por sua vez da dor que lhe causou a si. Já quando se leva a discussão como uma batalha, a tendência é ambos atacarem e nenhum se desculpar. Não se lance portanto impulsivamente a todas as lutas, faça escolhas, perceba que situações precisam que se afirme e lute, e quais beneficiam de baixar as armas e procurar acordos. No final saboreie os sucessos que estas escolhas lhe trarão.
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Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida! António Gedeão Vivemos tempos complicados que dificultam a já por si desafiante tarefa de lutar pelos nossos sonhos e concretizar os nossos objectivos profissionais.
Ainda assim, o nosso bem-estar e a nossa realização pessoal são muito influenciados pela nossa realização profissional, o que torna especialmente importante investir na concretização dos nossos projectos. Há dois grandes passos essenciais a contemplar: 1) é essencial olhar para dentro e perceber o que é que nos move e nos entusiasma; e 2) este passo precisa ser complementado com a análise das oportunidades e desafios do mundo do trabalho no(s) nicho(s) de interesse de cada um. Ainda que seja muito importante analisar as oportunidades e os desafios do mundo do trabalho, este passo não faz sentido sem uma contemplação prévia e cuidada do que nos move e nos realiza. A integração no mercado de trabalho é de facto particularmente difícil actualmente, mas isso não deve ser razão para fazermos escolhas com base mais nas oportunidades imediatas do que nos nossos projectos de vida. É importante colocarmo-nos as questões:
Com estas questões respondidas, posso orientar melhor a minha análise de mercado e o meu posicionamento face a ele, procurar em nichos que de outra forma poderia facilmente esquecer ou desvalorizar, e inclusivamente criar oportunidades de emprego, de encontro aos meus interesses e às necessidades de mercado que a procura motivada me fez descobrir. Não esqueça: ainda que em tempos de crise, não deixe de sonhar! Passados o Outono e o Inverno, chegamos à Primavera, estação da renovação.
Recorda-se da libertação do velho no Outono e da introspecção no Inverno? Pois está na hora de voltar a olhar para fora, trazer para fora o que está aí dentro, esta é a estação. O sol e a brisa agradável puxam-nos para sair, voltarmo-nos para o exterior e inspirarmo-nos nas árvores e nas plantas para também nós renascermos e florescermos. Está na hora de servir à mesa o que cozinhou no Inverno, cuidar das suas necessidades, concretizar os seus projectos. Ao contrário do Inverno, estação de questões e reflexões, esta é uma estação de acções e de afirmações. Já deve ter reparado que o meu tom neste texto é também mais afirmativo, mais directivo. Nesta estação, pegue em si próprio e saia para a rua, feche os olhos e sorria a sentir a brisa na face e o calor do sol na pele, abra os braços e espreguice-se, arregace as mangas e ponha cá para fora o que até agora manteve apenas dentro.
E não se esqueça, cuide de si, renove-se, esta é a estação. Nós somos o que fazemos do que quiseram fazer de nós Adaptado de Jean-Paul Sartre Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou?... é uma sequência de questões que apela para a continuação de uma identidade ao longo do tempo – um presente impelido por um passado e a caminhar para um futuro.
E de facto nós somos muito fruto das nossas histórias e vivemos muito também em função dos nossos projectos, pelo que o passado e o futuro tendem a estar connosco no presente. O que acontece é que muitas vezes a nossa história condiciona a nossa capacidade de no presente nos mobilizarmos para a concretização dos nossos projectos de futuro, e damos por nós numa posição de termos que escolher continuar os legados do passado ou investir nos projectos para o futuro. A escolha não é fácil, geralmente o desejo é investir no futuro, investir em nós, nos nossos projectos, mas a pressão, exterior e interior, é para continuar os legados do passado. Queremos diferenciar-nos e seguir os nossos passos, mas temos medo de perder a aceitação e o amor das figuras do passado que nos acompanham no presente, ainda que não nos identifiquemos com o que elas parecem desejar para nós. Ainda que duro, nós somos de facto o que fazemos do que quiseram fazer de nós; ainda que difícil, a escolha do passado ou do futuro, dos que nos antecederam ou de nós próprios, dos nossos projectos, é sempre nossa. E ainda que a escolha do passado seja sempre uma possibilidade, deixo-vos o Cântico Negro de José Régio que tão bem nos diz “Não vou por aí!” "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí! Ainda que por vezes esquecido ou ridicularizado, o simbolismo original do dia internacional da mulher é muito rico, não só para as mulheres; e vale a pena ser relembrado, talvez até particularmente numa fase em que mesmo na nossa realidade ocidental, supostamente mais protegida, muitos dos nossos direitos enquanto trabalhadores, e algumas vezes enquanto pessoas, são desrespeitados e colocados em risco.
Que este marco da luta das mulheres por melhores condições de vida e de trabalho, nos relembre, mulheres e homens, que não temos que nos resignar às condições existentes e nos inspire a reconhecer as nossas necessidades vitais e a lutar para que sejam respeitadas e satisfeitas dentro dos limites do respeito pelas necessidades e direitos dos outros. Que este seja um dia para pensarmos em nós, enquanto indivíduos e enquanto humanidade, que seja um dia para recuperarmos precisamente a nossa humanidade, caso ela tenha ficado perdida ou desvanecida pelo caminho, que seja um dia para ponderar sobre “o que é que queremos e merecemos lutar?”. E ainda que o caminho seja árduo e a evolução lenta, a luta destas mulheres do passado e das mulheres do presente em vários pontos do mundo, grita-nos que “vale a pena”. Diz o ditado “Ano novo, vida nova”, mas nem sempre é tão fácil assim.
No seguimento do texto Sobre o Outono, estação da libertação, proponho reflectir sobre o Inverno e o início do ano, como estação de introspecção. Estação em que o frio de fora pede o quentinho de dentro, apela-nos a olhar para dentro, e se calhar a vida nova que o ano novo preconiza, não é ainda, nesta fase, exterior, mas é essencialmente interior, quando se cozinham mudanças à lareira para servir à mesa na Primavera. Sugiro então que, desprovido do velho de que se libertou no Outono, aproveite este Inverno para arrumar a sua casa interior e perceber o que é que quer renovar na Primavera: Quais são os meus sonhos? Quais são os meus projectos? Quais são as minhas necessidades psicológicos por satisfazer que não quero mais adiar? Quais são as áreas que quero/preciso trabalhar? Que competências quero mobilizar-me para desenvolver? Como é que quero estar comigo próprio? De que pessoas me quero rodear? Como é que quero estar nas minhas relações? O que é que quero manter e o que é que quero mudar? E não se apresse nem se critique pelas mudanças que ainda não concretizou, inspire-se na dinâmica das estações do ano e dê tempo ao tempo, já é um passo gigante aproveitar o Inverno para olhar para dentro, pode deixar a concretização no exterior para a Primavera. |
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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