Neste dia internacional do homem, deixo um poema de Victor Hugo que enaltece as qualidades distintivas do masculino e do feminino.
Mais do que reforçar a diferença entre homens e mulheres, gostava que este poema nos ajudasse a reconhecer os lados masculino e feminino que existem em cada um de nós, para que possamos, mais do que nos encaixar como mais masculinos ou mais femininos, procurar um equilíbrio interior, em paz com ambos os nossos lados. O Homem e a Mulher O homem é a mais elevada das criaturas. A mulher, o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar. O trono exalta e o altar santifica. O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz amor. A luz fecunda; o amor ressuscita. O homem é o génio; a mulher é o anjo. O génio é imensurável; o anjo é indefinível; A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher é a virtude extrema; A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade. O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força; a preferência representa o direito. O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas. A razão convence e as lágrimas comovem. O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece e o martírio purifica. O homem pensa e a mulher sonha. Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma. Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu. Victor Hugo
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Neste dia internacional para a tolerância, trago-vos um lado da tolerância talvez pouco contemplado.
Tolerância é frequentemente sentida como algo dirigido ao outro, com o outro como referência. Eu acho que é importante contemplar o lado do (in)tolerante, o que significa a (in)tolerância do lado de quem a pratica. Tolerância, na sua face mais visível, implica dar espaço ao outro para ser ele próprio, aceitar o outro nas suas diferenças. No lado menos visível, tolerância implica dar-se espaço a si próprio para se ser quem é, plenamente, aceitar-se nas suas vulnerabilidades, aceitar as suas próprias diferenças. Quando não me aceito nas minhas diferenças, nas minhas vulnerabilidades, fico intimidado com as diferenças dos outros, elas salientam as minhas próprias, obrigam-me a dar-lhes atenção. E então defendo-me, deste que me afronta quando me mostra que o diferente sou eu também. Projecto nele a responsabilidade pelos meus males e luto com unhas e dentes para não deixar trespassar qualquer resquício da minha insegurança. Estrangulo a possibilidade de diálogo, sem perceber que quem sufoca é o meu próprio eu, aquele que soluça cá dentro, apertado. Quando consigo arranjar coragem para olhar para os meus lados menos risonhos e dar espaço, presença às minhas dores, às minhas fragilidades, dou-me também espaço a mim para me aceitar na diferença, respeitar-me pelo que sou, permitir-me ser de forma mais tranquila e mais autêntica. E na medida em que me tolero e respeito mais a mim, melhor tolero e respeito o outro. cada um de nós nasce com um artista lá dentro um poeta, um escultor, um aventureiro um cientista, um pintor um arqueólogo, um estilista um astronauta, um cantor, um marinheiro e o sonho e a distância e o tempo e a saudade deram-nos vida, amor, problemas mentiras e verdade e damos por nós mesmos descobrindo que agora, se calhar, já é um pouco tarde e nas memórias velhas e secretas da menina morou sempre aquele sonho de um dia ser bailarina, actriz, modelo, princesa muito rica, eu sei lá… Mas os anos correram num assombro e a vida foi injusta em qualquer jeito para a chama indelével que ainda arde e os filhos são bonitos no seu peito pois é…, mas agora, agora já é tarde… e nos papéis antigos que rasgamos há sempre meia dúzia que guardamos são os planos da conquista do Polo Norte que fizemos aos sete anos escondidos no sótão, uma tarde e estiveram perdidos trinta anos e agora, se calhar, maldita sorte, por desnorte, acaso ou esquecimento alguém já descobriu o Polo Norte e agora…, agora pronto, agora já é tarde! há sempre nas gavetas escritores secretos, cientistas e doutores desenhos e projectos construtores feitos em meninos de tudo o que sonhámos fazer quando fosse a nossa vez cientistas em busca de Plutão arqueólogos no Egipto viajantes sempre sem destino, futebolistas de sucesso no Inter de Milão… e o curso da vida foi traidor e o curso da vida foi cobarde e o ciclo do tempo completou-se e agora..., agora pronto, paciência, agora já é tarde. agora é tarde emprego, casa, filhos muito queridos algum sonhar ainda com os amigos às vezes sair, beber uns copos para esquecer ou para lembrar e fazer ainda um certo alarde talvez para esconder ou para abafar como é já tão demasiado e tão impiedosamente tarde mas não não, nunca é tarde para sonhar amanhã partimos todos para Istambul Vladivostock, Alaska, Oslo, Dakar vamos à selva a Timor abraçar aquela gente, e às montras de Amesterdam que eu afinal, também não sou diferente. chegando a Tóquio, são horas de jantar depois temos de voltar a Bombaim, passando por Macau e Calcutá que eu encontro Portugal em todo o lado e mesmo fugindo, nunca saio de mim e se esse marinheiro, galã, aventureiro esse, que já não há, mas que me saiba cumprir com coerência nos limites decentes da demência nos limites dementes da decência e cumpramo-nos todos, já agora, até ao fim, no que fazemos, na diferença do que formos e dissermos e perguntando, criando rebeldias, conferindo aquilo que acreditamos e que ainda formos capazes de sonhar… …e se aquilo, aquilo que nos dão todos os dias não for coisa que se cheire ou nos deslumbre que pelo menos nunca abdiquemos de pensar com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente e será talvez uma forma inteligente de afinal, nunca nunca nunca ser tarde demais para viver nunca ser tarde demais para perceber nunca ser tarde demais para exigir nunca ser tarde demais para acordar Agora não é tarde de Pedro Barroso no álbum Navegador do Futuro
_ Problemas na gestão das emoções são uma causa frequente da procura de acompanhamento psicológico. Muitas vezes procuramos ajuda porque nos sentimentos a sucumbir à tristeza, ou porque não controlamos a nossa zanga, ou porque não conseguimos sentir alegria e entusiasmo pela vida, entre outros problemas de foro emocional. Tendencialmente dicotomizamos as emoções em dois tipos: as agradáveis (como a alegria, o entusiasmo, o amor) e as desagradáveis (como a tristeza, a zanga, o medo, a vergonha). As primeiras são, regra geral, socialmente aceites e incentivadas. As desagradáveis, pelo contrário, são geralmente temidas e vistas como algo a esconder, frequentemente até de nós próprios. Estranho que possa parecer, as emoções, mesmo as desagradáveis, têm um papel fulcral na nossa vida que passamos a clarificar. As emoções não são boas nem más, positivas ou negativas; podem ser umas mais agradáveis e outras mais desagradáveis, mas são todas fundamentalmente adaptativas, o que significa que nos orientam para a sobrevivência. De certa forma, o que as emoções fazem é regular a nossa atenção, monitorizando o ambiente para situações de relevância adaptativa e alertando a nossa consciência para essas situações. Apesar de todas nos orientarem para a sobrevivência, têm funções diferentes umas das outras:
Componente informativa/auto-reguladora As emoções informam-nos dos nossos estados internos e motivam-nos para responder às nossas necessidades no momento. Componente comunicacional As emoções informam os outros de como nos sentimos e incitam a que reajam conforme as emoções que pressentem em nós. As emoções são as estruturas que guiam as nossas vidas, especialmente nas relações com os outros. Componente motivacional e de acção As emoções estabelecem objectivos prioritários e organizam-nos para acções específicas. Por exemplo:
Quando é que as emoções podem ser problemáticas? As emoções, ao estarem presentes nas nossas vidas desde muito cedo, antes mesmo de conseguirmos pensar/raciocinar, têm um papel muito importante na nossa aprendizagem e uma influência profunda na nossa experiência, no nosso comportamento e na forma como interagimos com os outros. Ao longo do nosso desenvolvimento, vamos sendo expostos a situações que desencadeiam determinadas emoções. O registo destas nossas experiências subjectivas, repletas de carga afectiva, constitui os nossos esquemas emocionais – a forma como nos vemos a nós próprios, ao mundo e aos outros, e as nossas tendências de acção. Por sua vez, os nossos esquemas emocionais influenciam de forma automática o significado que atribuímos às situações com que nos deparamos no presente e determinam as nossas respostas emocionais e cognitivas conscientes. Assim, se expostos de forma prolongada e/ou repetitiva a situações que desencadeiam, por exemplo, emoções de vergonha, especialmente na infância, tendemos, mesmo em adultos, a estar, por um lado, particularmente alerta para situações em que somos humilhados ou nos sentimos desadequados, e aprendemos, por outro, que o mundo é um lugar onde as pessoas nos humilham e/ou com o qual não temos competência para lidar. De certa forma, a emoção vergonha, adequada às situações de humilhação ou descrédito vividas no passado, poderá ter deixado de estar adequada no presente, mas de tão enraizada, continua a orientar a nossa atenção e a nossa acção. Este mesmo exemplo pode ir mais longe, se uma das estratégias que tivermos desenvolvido para lidar com a vergonha for a zanga, de tão sensíveis a sinais de humilhação e descrédito que somos, podemos facilmente activar esta última emoção (a zanga) numa situação em que antecipo (por vezes erradamente) que vou ser humilhado ou desacreditado. Sentindo-se injustiçados, os outros poderão atacar-me de volta ou evitar relacionarem-se comigo, o que pode manter ou piorar o problema inicial, mas dificilmente o melhora. Por outro lado, se este comportamento compensatório de zanga face à possibilidade de ser humilhado for frequente, eu poderei deixar de me aperceber da emoção primária que está na base desta minha reacção (a vergonha), e ao deixar de estar em contacto com a minha experiência primária, o que pode trazer um certo alívio, crio em contrapartida os tais problemas potencialmente mais complexos, e dificulto a resolução da questão de base. Quais são as soluções? A resposta é Regulação Emocional. O importante ou desejável não é anular os nossos sentimentos negativos ou deixar de ter sentimentos de todo, mas poder regulá-los, de forma a sermos nós a controlá-los a eles e não eles a controlar-nos a nós. A regulação das emoções tem dois componentes: por um lado é importante regular a experiência emocional, por outro regular a expressão emocional. E é importante, de facto, distingui-los: experienciar uma emoção não implica necessariamente agi-la, e mesmo expressá-la não tem de ser feito de uma forma dura e inapropriada. Regulação da experiência emocional Na regulação da experiência emocional, é importante permitirmo-nos aceder às nossas emoções, entrarmos em contacto com elas, para as podermos simbolizar (dar-lhes um significado coerente) e integrá-las na nossa visão de nós próprios (reconhecermos que elas fazem parte de nós). Regulação da expressão emocional No que toca o expressar aos outros as nossas emoções, é importante gerir quando, nem sempre os outros estão disponíveis ou eu estou preparado, e gerir com quanto controlo da minha parte: se me controlo demasiado e não expresso de todo o que sinto, fico com as minhas emoções entaladas e não dou a possibilidade ao outro de vir ao encontro das minhas necessidades; se não controlo de todo a expressão das minhas emoções, dificilmente reparo nos sinais do outro de que não está no momento disponível e corro o risco de o sobrecarregar e afastá-lo. Frequentemente este trabalho não é fácil sozinho, poder inicialmente experienciar e expressar as suas emoções mais dolorosas no seio de um ambiente seguro e aceitante, poderá facilitar muito este processo. Baseado no livro Working with emotions in psychotherapy de Leslie Greenberg e Sandra Paivio Deixo-vos o link para uma conferência TED sobre o poder da vulnerabilidade. Vale a pena.
http://www.ted.com/talks/lang/eng/brene_brown_on_vulnerability.html “No alto, como se fosse a arcada deste templo da volúpia, estala o riso, transe delicioso da felicidade, cúmulo extremo do gozo. Riso do gozo, gozo do riso. Incontestavelmente, este riso está além da brincadeira, da troça e do ridículo. As duas irmãs estendidas sobre a cama não riem de nada em concreto, o riso delas não tem objecto, é a expressão do ser que se regozija por ser. Tal como, ao gemer, aquele que tem uma dor se amarra ao segundo presente do seu corpo que sofre (e está, todo ele, fora do passado e do futuro), aquele que começa a rir com este riso de êxtase não tem memória nem desejo, porque lança o seu grito ao segundo presente do mundo e não quer conhecer nada além desse segundo.” “O domínio do mundo, como se sabe, é partilhado por anjos e demónios. No entanto, o bem do mundo não implica que os anjos tenham vantagem sobre os demónios (como eu pensava quando era criança), mas que os poderes de uns e outros estejam mais ou menos equilibrados. Se há no mundo demasiado sentido incontestável (o poder dos anjos), o homem sucumbe sob o seu peso. Se o mundo perde todo o significado (o reino dos demónios), também não se pode viver. As coisas, inesperadamente privadas do seu sentido suposto, do lugar que lhes é atribuído na ordem pretensa das coisas (…), provocam-nos o riso. Na origem, o riso é, portanto, do domínio do diabo. Tem algo de maléfico (as coisas revelam-se de repente diferentes daquilo por que se faziam passar) mas também tem em si uma parte de alívio benfazejo (as coisas são mais leves do que pareciam, deixam-nos viver mais livremente, cessam de nos oprimir sob a sua séria austeridade).” Milan Kundera In O livro do riso e do esquecimento
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Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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