_ Há quem renegue o dia dos namorados, o veja como um peso, como algo artificial e consumista. Eu tenho uma visão mais positiva deste dia, não que seja obrigatório comemorá-lo mas parece-me importante que ele exista.
Mais do que um dia para trocar presentes e promessas de amor, gosto de pensar nele como um dia para relembrar o amor, para parar um bocadinho e pensar nas nossas relações, como é que elas estão, se estão a precisar ser alimentadas, o que é que tem sido bom e quer-se continuar a investir, o que é que tem sido menos bom e precisa de uma mudança, que mudança seria essa, como é que poderia ser potenciada… De alguma forma é um dia para pensar no “nós”, para relembrar que é importante investir no “nós”, ainda que não descurando o “eu” de cada um, que também precisa ir sendo alimentado e respeitado dentro das relações. Mas há de facto fases na vida das relações em que o “nós” fica mais esquecido, mais desinvestido, e é importante realimentá-lo. Não esqueça também que, mais do que pensadas, as relações devem ser vividas, portanto não se limite a pensar na sua relação e a resignar-se a algo insatisfatório quando lhe vê problemas, perceba o que é que a relação está a precisar e invista de facto nas mudanças que se mostram necessárias. Pode começar logo a investir fazendo-a a dois, mobilizando-se os dois para refletir sobre a relação e potenciar as mudanças desejadas. Se a sua relação está bem e já tem o hábito de investir nela e realimentá-la quando ela se mostra desnutrida, então aproveite para o repetir mais um dia, para repetir aquilo que já faz tão bem.
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Não sei se já se apercebeu das potencialidades simbólicas do Carnaval. De repente podemos experimentar uma nova personagem, uma nova máscara, experimentarmo-nos num papel diferente, e isso pode ser muito rico.
Mas comecemos por pensar um bocadinho nas nossas “máscaras” habituais. Não se assuste com o termo, estou a usá-lo no sentido das nossas facetas, as formas como em contextos diferentes, com estados de humor diferentes, nos vamos apresentando ao mundo, em jeito de máscaras que vamos pondo e trocando. Posso pedir-lhe para pensar um bocadinho nas suas diferentes “máscaras”, nas suas diferentes facetas, os seus diferentes papéis?... Respire, olhe para dentro, e procure reconhecer os seus vários lados: Como é que sou eu quando estou sozinho comigo próprio?... Como é que sou eu quando estou com os meus filhos… com os meus pais… com o meu companheiro ou companheira… com os meus amigos?... Como é que sou eu quando o dia me corre mal?... Como é que sou eu quando o dia me corre bem?... Como é que sou eu triste?... Como é que sou eu zangado?... Como é que sou eu com medo?... Como é que sou eu bem?... Depois em jeito de Carnaval sugiro-lhe, à escolha, uma de duas coisas: A primeira: escolha uma das suas “máscaras” habituais e use-a intensamente este Carnaval, a senti-la verdadeiramente, perceber como é que ela mexe consigo, como é que está com os outros quando com ela, como é que os outros lhe reagem… E aqui, porque explorarmos as nossas facetas mais complicadas sozinhos pode ser desorganizador, sugiro que escolha uma máscara com a qual se sinta bem, mesmo que seja uma das que usa menos, quem sabe não se apessoa dela e ela se torna mais frequente. A segunda: Deixe as suas “máscaras” de lado por um dia e experimente-se num papel completamente diferente, e novamente aperceba-se como é que é ser eu não sendo bem eu mas sendo este?... Como é que é ser este?... Como é que eu estou com os outros enquanto este?... Como é que os outros estão comigo?... No fim faça um balanço: o que é que eu quero manter desta máscara?... O que é que eu quero ajustar nesta máscara?... Como é que eu a quero viver?... Enfim. Coisas giras podem surgir no Carnaval, divirta-se! Diz o ditado “Ano novo, vida nova”, mas nem sempre é tão fácil assim.
No seguimento do texto Sobre o Outono, estação da libertação, proponho reflectir sobre o Inverno e o início do ano, como estação de introspecção. Estação em que o frio de fora pede o quentinho de dentro, apela-nos a olhar para dentro, e se calhar a vida nova que o ano novo preconiza, não é ainda, nesta fase, exterior, mas é essencialmente interior, quando se cozinham mudanças à lareira para servir à mesa na Primavera. Sugiro então que, desprovido do velho de que se libertou no Outono, aproveite este Inverno para arrumar a sua casa interior e perceber o que é que quer renovar na Primavera: Quais são os meus sonhos? Quais são os meus projectos? Quais são as minhas necessidades psicológicos por satisfazer que não quero mais adiar? Quais são as áreas que quero/preciso trabalhar? Que competências quero mobilizar-me para desenvolver? Como é que quero estar comigo próprio? De que pessoas me quero rodear? Como é que quero estar nas minhas relações? O que é que quero manter e o que é que quero mudar? E não se apresse nem se critique pelas mudanças que ainda não concretizou, inspire-se na dinâmica das estações do ano e dê tempo ao tempo, já é um passo gigante aproveitar o Inverno para olhar para dentro, pode deixar a concretização no exterior para a Primavera. Natal é tempo de aconchego, de quentinho, de dar e receber, de carinho.
E o Natal nem sempre é fácil, tanto pode puxar pela alegria, pelo sentimento de pertença, como pode avivar a solidão, a nostalgia, a desesperança. De um ponto de vista bíblico, Natal é quadra de nascimento, de esperança, de início de um ciclo, e segundo o calendário é quadra de fechamento, fim de ano, fim de um ciclo. Como tantas outras coisas na vida, o Natal fica aqui neste ínterim e deixa-nos muitas vezes também a nós aqui. Espero contudo que o seu Natal seja mais aconchegante que solitário, mais alegre que nostálgico, mais esperançoso que derrotista. Que possa aproveitar o bom que o Natal lhe pode dar e possa dar também o seu sorriso e o seu abraço a quem for importante para si neste Natal. Feliz Natal! Amamo-nos muito mas não funciona, não nos conseguimos entender! As relações íntimas de casal são uma área particularmente importante das nossas vidas, mas apesar de as desejarmos muito e de tendermos a sentir-nos incompletos, não totalmente realizados, sem elas, a realidade é que gerir a relação não é fácil e mesmo havendo amor, nem sempre a relação flui, às vezes parece não funcionar. O que é que acontece? Apesar de numa relação termos à partida um objectivo comum, alimentar a relação, mantê-la viva e saudável, não deixa de ser verdade que temos duas pessoas na equação, muitas vezes com registos de funcionamento diferentes, cujo contraste pode criar choque e este choque prolongado no tempo cria padrões de interacção desadequados com uma escalada de frustração, agressividade e/ou afastamento. Quando dentro destes ciclos desadequados de interacção, as dificuldades são duas:
No sentido de tentar quebrar estes ciclos e de tanto aceder como expressar emoções e necessidades em casal, sugiro o seguinte exercício[1]: Numa folha de papel desenhe uma tabela como a seguinte: E comece a preencher.
Como? Deixo um exemplo: Quando tu chegas tarde (situação), eu sinto-me zangada (reacção emocional) e reajo criticando-te (reacção comportamental). Isto esconde a minha ansiedade e sentimento de rejeição (emoção de base). O que eu preciso realmente é sentir que sou importante para ti (necessidade geral), e portanto preciso que tu me ligues a avisar que vais chegar mais tarde (necessidade específica). Desta forma, a nossa activação emocional tende a baixar e a receptividade do outro à nossa necessidade tende a aumentar. É como se encontrássemos aqui um ponto de equilíbrio em que conseguimos comunicar um com outro, cria-se um espaço para ouvir e ser ouvido. [1] do livro Emotion-focused couples therapy: The dynamics of emotion, love, and power de Greenberg e Goldman (2008) Sometimes to loose balance is part of living a balanced life Quando pensamos no que é que queremos para a nossa vida, do que é que precisamos para a nossa saúde mental, cada vez mais reconhecemos que precisamos é de equilíbrio, em contraponto a uma busca utópica de um estado permanente de felicidade e bem-estar.
Apesar deste reconhecimento, velhos hábitos são difíceis de deixar, e o risco é desejarmos sim equilíbrio, mas deturparmos o conceito e rigidificarmo-nos numa postura de não nos permitirmos nem grandes desânimos nem grandes entusiasmos, contentarmo-nos com o mediano, como se equilíbrio fosse sinónimo de meio-termo, nem muito nem pouco, assim-assim. Clarifiquemos então a ideia de equilíbrio: Equilíbrio é um “estado” dinâmico de compensação de forças em que, quando puxo para um lado, activo em consequência uma força contrária que puxa para o outro, no sentido de não permitir a queda ou a destruição. Equilíbrio não é portanto um estado estático mas implica um movimento oscilatório entre polos opostos, sempre com duas forças contrárias e compensatórias a puxar. Equilíbrio não é uma coisa que se adquire mas um processo que se vive. Paradoxal que possa parecer, estar em equilíbrio implica portanto estar disponível para o perder aqui e ali. Neste sentido, talvez a pergunta-chave não seja como é que me equilibro mas como é que me disponibilizo para me desequilibrar. E disponibilizo-me para me desequilibrar quando me permito sentir o que estou a sentir, seja agradável ou doloroso, quando arrisco experimentar coisas novas, diferentes, quando me permito depender momentaneamente dos outros quando preciso de colo e afastar-me momentaneamente quando preciso de dar os meus passos sozinho… Quando confio que posso dar qualquer passo porque sei que tenho a capacidade de analisar os erros, de analisar o risco, e confio que quando necessário consigo mobilizar recursos num sentido compensatório e recuperar o equilíbrio ou transformá-lo num equilíbrio diferente, mais adequado às novas necessidades ou exigências. Preciso confiar que consigo estar próximo da queda sem cair. Preciso disponibilizar-me para o desequilíbrio para viver equilibradamente. Não esqueça: não se atinge o equilíbrio, vive-se equilibradamente em desequilíbrio. _ Assertividade é um conceito que tem ganho relevo nos últimos anos, mas apercebo-me que nem sempre é bem interpretado.
De uma forma simples, assertividade é a capacidade social de afirmar os próprios direitos não violando, ao mesmo tempo, os direitos dos outros. Tenho contudo a sensação que uma amostra significativa de pessoas apreendeu bem a parte da afirmação dos direitos do próprio, mas como que apagou o lado que contempla o respeito pelos direitos dos outros, e portanto associa assertividade a uma postura egoísta e arrogante, chegando a comentar “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”. O que é afinal a assertividade? Eu gosto de a colocar num contínuo entre os polos da passividade e da agressividade. Se delinearmos uma linha com a passividade num extremo e a agressividade no outro, o comportamento assertivo passeia-se por esta linha, por vezes aproxima-se mais de um extremo, por vezes mais do outro, mas nunca chega a atingir nenhum dos polos, nem fica indefinidamente na mesma posição. O que é que justifica a mudança de posição na linha? A situação. A assertividade envolve expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira directa, clara, honesta e apropriada ao contexto. Ou seja, num contexto tranquilo, sem grandes ameaças à minha identidade, aos meus direitos, o comportamento adequado (assertivo) aproxima-se mais do polo da passividade, numa postura receptiva, de permissão da proximidade do outro, com as defesas em baixo; num contexto hostil, em que os meus direitos são ameaçados e a minha identidade é desrespeitada, o comportamento adequado (igualmente assertivo porque de acordo com a situação) aproxima-se mais do polo da agressividade, em que as minhas defesas estão alerta e coloco limites à proximidade do outro no sentido de me proteger. Mas voltemos ao comentário “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”. O que é que isto pode significar? Das duas uma, ou não estou a ser assertivo, numa postura de defender os meus direitos mas já de uma forma agressiva por não estar a contemplar os direitos do outro, ou estou perante um outro particularmente frágil, que se sente atacado sem o ser e que responde de volta atacando. Um terceiro cenário, para o qual peço especial atenção, é uma combinação dos dois, em que o outro se sente atacado não o sendo, eu me ressinto do ataque dele em resposta, e respondo eu atacando também. Neste jogo de lutas não se preocupe em perceber quem começou, assuma a coragem de lhe por um ponto final, protege-se a si e ao outro, aí então está a ser assertivo. _Assertividade é a capacidade social de afirmar os próprios direitos não violando, ao mesmo tempo, os direitos dos outros. Comumente está associada a uma postura intermédia entre a passividade e a agressividade, no entanto, a assertividade envolve expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira directa, clara, honesta e apropriada ao contexto. Neste último sentido, uma postura assertiva implica a flexibilidade de nos movimentarmos entre maior passividade ou maior agressividade consoante a situação requer e desde que nem os nossos direitos nem os direitos dos outros estejam a ser desrespeitados. _ (adaptado da Wikipédia)
A importância do afecto
Neste dia de S. Valentim, estejamos ou não enamorados, que possamos reflectir sobre o espaço que damos na nossa vida às relações com aqueles que nos são próximos/importantes, o espaço que damos ao dar e receber afecto. E este binómio é muito importante, investir apenas no dar ou apenas no receber desequilibra as relações, empobrece-as. Com o tempo, o risco é que o que só dá comece a sentir-se pesado de carregar a relação há tanto tempo, desvitalizado; e o habituado a só receber corre o risco de não perceber a mudança e ter dificuldade em se adaptar à nova necessidade de também dar. Mas voltemos à questão inicial, quanto espaço se dá na sua vida para investir, alimentar as relações? Quanto tempo se dá para tomar café com amigos? Quanto tempo se dá para fazer actividades em família? Quanto tempo se dá para contar a um outro significativo o seu dia, as suas alegrias, as suas frustrações? Quanto tempo se dá para ouvir o dia, as alegrias e as frustrações deste mesmo outro? Quanto espaço se dá para reflectir sobre como está a sua relação amorosa, as suas relações sociais, as suas relações familiares? E quando percebe que alguma coisa está a mexer consigo de uma forma desagradável, quanto espaço se dá para perceber o que é que se passa, onde é que mexe, o que é que significa? Quão disponível está para dar afecto, colo? Quão disponível está para os receber? Diz-nos Sidney Blatt, um investigador que há vários anos estuda o binómio autonomia e proximidade, que o desenvolvimento saudável da nossa individualidade é favorecido por um desenvolvimento saudável da nossa capacidade de nos ligarmos aos outros. Não descuremos então a importância do afecto. Disponibilizemo-nos para a dança do dar e receber. _ A psicologia ocidental preconiza, tradicionalmente, o desenvolvimento da autonomia, independência e identidade individual, em detrimento do relacionamento com os outros; o contrário é atribuído às culturas não ocidentais.
Sidney Blatt, ao longo de vários anos de estudo, articulando conhecimento das áreas da biologia, antropologia e psicologia, tem vindo a mostrar que a individualidade e o sentido de ligação aos outros se desenvolvem de forma interligada, em que níveis mais elevados de desenvolvimento pessoal possibilitam níveis mais elevados de ligação interpessoal e vice-versa. Defende Blatt que o desenvolvimento de uma personalidade saudável implica uma ênfase complementar e equitativa entre a individualidade e a ligação aos outros, e isto tanto nos homens como nas mulheres. É necessário desenvolver um sentido de identidade mais abrangente, que inclua tanto um sentido estável e realista de si como eficaz e competente, como a capacidade de se relacionar com os outros de forma mútua, recíproca e íntima. Não descure uma esfera em detrimento da outra, invista nas duas, até porque o desinvestimento de uma delas prejudica o desenvolvimento saudável da outra. |
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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