“Não consigo lidar com o facto de se lhe expressar o que sinto vou magoá-lo/a”
A ideia de que expressar emoções desagradáveis ao outro, sobre o outro, implica magoá-lo é algo que os meus pacientes me trazem com frequência para as sessões. A possibilidade de magoar o outro é tão aversiva que parece haver uma preferência por anular a expressão das próprias emoções, mesmo que isso acarrete incoerência e sofrimento para o próprio. Esta dificuldade dos meus pacientes em serem coerentes com as suas emoções no relacionamento com os outros mexia particularmente comigo e debrucei-me a reflectir sobre o que é que me desconcertava nesta dificuldade tão comum. Comecei então a pensar, o que é isto de magoar o outro? Quando é que magoamos o outro? Magoar parece-me implicar uma certa desconsideração, uma forma descuidada de tratar o outro, seja no adoptar de uma postura agressiva, ou no adoptar de uma postura negligente. Diria que magoar implica não considerar o outro na equação. E a realidade é que não era isto que eu via tendencialmente nos meus pacientes, pelo contrário, parecia-me que equacionavam tanto o outro que se esqueciam de si próprios. E comecei a pensar… será de facto que magoamos os outros quando partilhamos, de uma forma cuidada, as nossas opiniões divergentes ou as nossas emoções menos agradáveis perante eles? E surgiu-me esta diferença: magoar ou entristecer? Se me apontam características menos positivas minhas, eu fico triste; se me dizem “já não sinto por ti o que sentia”, eu fico triste; se não partilham a mesma opinião que eu sobre um tema que me é querido, eu posso ficar triste também; mas magoada? Quando, por tanto engolirem o que pensam a meu respeito, explodem um dia e me mostram os meus defeitos de forma agressiva, eu fico magoada; quando me dizem “gosto de ti da mesma forma” mas toda a expressão não verbal, nomeadamente o afastamento ou a irritação, mostra o contrário, eu fico magoada; quando, por terem uma opinião diferente da minha num tema importante para mim, criticam a minha opinião de forma desrespeitosa, eu fico magoada. A diferença não está em expressar ou ocultar o que sentimos, a diferença está no cuidado que temos perante o outro quando o expressamos. E talvez alguns me possam dizer: “mas eu também não quero entristecê-lo/a”. Eu aí diria que podermos dar atenção às nossas tristezas e ficar a dar-lhes algum colo quando surgem é essencial para arrumarmos as nossas dores e podermos então abrir-nos a novas possibilidades. Por outro lado, ao ocultar verbalmente o que a nossa expressão corporal não consegue esconder, podemos estar já a magoar.
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Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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