Cresci numa família ecologista. As preocupações com o planeta e a sustentabilidade ambiental sempre estiveram muito presentes na minha vida. Ainda assim, com todos os movimentos recentes e o mediatismo do problema das alterações climáticas, dei por mim a questionar quão ecologista consigo ser na realidade, e confesso que a duvidar quão ecologistas conseguem ser muitas das pessoas que se manifestam a pedir mudanças governamentais, por também elas se preocuparem com o tema. A minha inquietação começou com a Greta Thunberg a não andar de avião, por ser um forte poluidor do planeta, e eu dar-me conta que, se por um lado me esforço por ter um estilo de vida minimalista, produzir menos lixo e reutilizar e reciclar ao máximo, e andar essencialmente a pé, de bicicleta ou de transportes públicos na cidade, não me sinto disponível para abdicar de viajar pelo mundo e usar o avião como meio de transporte. Ao mesmo tempo vários miúdos nas escolas começaram a manifestar-se por mudanças governamentais, que eu acho ótimo, mas não consegui deixar de me questionar - quantos destes miúdos são levados de carro para a escola pelos pais, quantos percebem o contributo negativo disso mesmo, e quantos estariam disponíveis para abdicar desse luxo? A sensação que tenho é que a maioria de nós (se não todos), daqueles mais conscientes e sensibilizados para a sustentabilidade ambiental, temos comportamentos sustentáveis e comportamentos insustentáveis, e se por um lado queremos ser o mais sustentáveis possível, temos diferentes perceções do possível, e os nossos interesses pessoais tendem a falar muito alto. Por outro lado, para complicar, temos mensagens de sustentabilidade paradoxais. No que à sustentabilidade do planeta diz respeito, para diminuirmos a pegada ecológica seria conveniente, por exemplo, não termos filhos; do ponto de vista da sustentabilidade do país, convém tê-los. E estes paradoxos são uma boa cama para os nossos mecanismos de dissonância cognitiva, em que acabamos a defender a ideia que nos dá mais jeito, que é mais coerente com os nossos desejos e necessidades pessoais. Estive entretanto num workshop que gostei muito, sobre a interface entre a psicologia e as alterações climáticas, com a Janet Swim, e acalmei um pouco a minha inquietação sobre a possibilidade de fazermos verdadeiras mudanças no mundo. O desafio é enorme, essa perspetiva não mudou, mas, de forma muito simplista, só em jeito de síntese – se tornarmos as alterações climáticas uma realidade mais próxima; se conseguirmos perceber e mostrar a gravidade da situação, mas ao mesmo tempo proporcionar uma sensação de eficácia, através da capacidade de responder com mudanças locais; se estimularmos um espírito de trabalho e comunicação sobre o tema na comunidade, para não nos restringirmos às mudanças individuais, importantes mas de menor alcance; e se identificarmos e tornarmos acessível as mudanças fáceis de fazer no dia-a-dia, com o cuidado de não deixar que essas pequenas mudanças nos façam desresponsabilizar das maiores, mais difíceis mas fundamentais; então sim é possível aspirarmos a um mundo mais sustentável e sentirmos o orgulho de fazer parte dessa mudança. Eu apercebi-me no final do workshop, que se não me sinto disponível para deixar de andar de avião, procuro escolher as minhas viagens de forma mais consciente, procurando pelo menos não abusar deste recurso que é tão valioso para mim. E isso já faz alguma diferença. (Post original de 03/12/2019)
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Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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