(uma reflexão a partir do Lobo das Estepes de Hermann Hesse)
Recentemente li o “Lobo das Estepes” do Hermann Hesse, que retrata com uma profundidade e uma clareza a sensação de dualidade que vários pacientes trazem entre um lado humano e um lado supostamente de animal bravio e indomável – o lado lobo. Esta dualidade, em que frequentemente a sensação interior é de o lobo suplantar tendencialmente o humano, é vivida com grande angústia, com uma grande falta de amor-próprio e de amor à vida. Nesta dualidade, cada um dos lados condena e rejeita o outro, nenhum realmente se compreende, portanto quando surge o lado humano, mais social e delicado, o lado lobo arreganha os dentes, ridiculariza, destrói a experiência de envolvimento; e quando surge o lado lobo, que se zanga e se ressente ferozmente das injustiças a que se sente sujeito, o lado humano vem e julga, critica, invalida a experiência interior. É a tensão entre não conseguir ser feliz nem como humano nem como lobo, já que se por um lado se rejeitam um ao outro, também não deixam nenhum viver sem a presença crítica do outro. A sensação é de alienação, de serem lobos incapazes de viver em contexto humano, mas suficientemente humanizados para também não se conseguirem suportar enquanto lobos. Esta dualidade “condena” a uma incapacidade de sentir satisfação consigo e com a vida, a inteligência e o entendimento das coisas não se faz acompanhar da capacidade de se experimentar, de se viver, com menos seriedade e mais leveza. Esta condenação é fruto por um lado desta crítica, desta falta de aceitação do que se é e das ambiguidades do que se sente, e por outro desta categorização dicotómica entre bom e mau, humano e selvagem, que não contempla variações positivas do lobo e negativas do humano, nem outros lados, outras facetas, ou que, quando as reconhece, procura imediatamente encaixá-las numa destas duas possibilidades – bom/humano ou mau/selvagem, e perde o poder enriquecedor e transformador de nos contemplarmos na nossa totalidade e podermos brincar com os nossos vários lados, organizarmo-nos e regorganizarmo-nos a cada momento como nos aprouver, como a cada instante nos fizer sentido e nos quisermos experimentar. Como tão bem nos mostra Hermann Hesse no livro, a capacidade de retirar satisfação de nós próprios e da vida implica recuperarmos e alimentarmos o nosso lado curioso e brincalhão, em que cada um dos nossos lados (bem mais do que dois) em vez de julgar os restantes vai curioso tentar percebê-los e, em jeito de brincadeira, vai-se explorando em combinação com eles, integrando as várias peças num todo mais coerente mas também flexível, com espaço para a cada momento retirar umas, integrar outras, transformar outras ainda. Citando Hermann Hesse no livro: “Isto é a arte da vida (…) Poderá de futuro conferir forma e animação ao jogo da sua vida, emaranhá-lo e enriquecê-lo como bem lhe aprouver, tudo está na sua mão”.
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A ideia de podermos depender tende a ser conflituosa, se por um lado o desejamos, também tendemos a temê-lo com muita força, num misto de medo de nos perdermos a nós próprios e/ou de sufocarmos o outro com as nossas necessidades.
Tenho-me apercebido com os meus pacientes que é difícil para muitos distinguirem a dependência negativa/sufocante da dependência positiva, que promove a ligação e nos faz sentir próximos e acompanhados. Esta indiferenciação fá-los temerem constantemente sufocar o outro, mesmo quando os seus movimentos de aproximação e de conexão são perfeitamente saudáveis e agradáveis ao outro de receber. Curiosamente, o que tenho percebido entretanto é que, ao contrário do que a lógica nos faria crer, tornamo-nos patologicamente dependentes quando ao longo da nossa história não recebemos dos outros o que precisávamos – é muitas vezes perante “outros” negligentes e não responsivos que tendemos a depender negativamente, sempre à espera do dia em que nos vão dar o que precisamos, sempre a esforçarmo-nos um bocadinho mais para o receber. Perante “outros” responsivos, capazes de ir ao encontro das nossas necessidades, a dependência é no fundo ligação; a necessidade fica imediatamente satisfeita, não precisamos exigi-la, e isso dá-nos segurança e liberta-nos, é um colo que sabemos que está sempre lá (ou que reaprendemos que podemos confiar), perante o qual não precisamos estar de vigia, ele não vai fugir, ele vai estar lá quando nós precisarmos e ele puder. E perante este cenário, nem precisamos de deixar de ser nós próprios, nem precisamos sufocar os outros, contamos simplesmente com eles; ligamo-nos a eles e permitimos-lhes ligarem-se a nós. Às vezes ficamos tão presos nas nossas cabeças que nos esquecemos de escutar e usar o nosso corpo, de nos descobrirmos e nos expressarmos através do movimento que ele nos permite.
E este equilíbrio entre o pensar e o sentir/agir é essencial para uma vivência mais integrada e saudável de nós mesmos, tanto nas relações connosco próprios como nas relações com os outros. O ideal é o corpo receber informação/estímulos (sentir), que o cérebro ajuda a dar significado/coerência (pensar), para novamente o corpo entrar em acção e responder de volta para o mundo (agir). Se esta cadeia é interrompida ou rigidificada nalgum ponto, passamos a ficar estagnados, bloqueados, a vida deixa de fluir. É essencial primeiro estarmos atentos ao nosso corpo, percebermos como nos sentimos face às coisas; para depois pensar sobre o que estamos a sentir, e é muito importante que o pensamento seja guiado pela emoção, se for apenas no abstracto ou em negação ao que estamos a sentir vai ser improdutivo; para depois de dado significado, o corpo voltar novamente à acção, desta vez para enviar mensagens para o exterior, em resposta ao estímulo percepcionado. Dançar, por exemplo, é uma excelente forma de treinar esta cadeia. Experimente o seguinte exercício: De pé, ponha uma música do seu agrado a tocar, apure os seus sentidos e preste atenção ao seu corpo, como é que a música mexe com ele, que sensações desperta… Deixe-se ficar um tempo aqui, e experimente depois incluir a cabeça neste processo, mas não é um pensar abstracto, desconectado do corpo, é simplesmente estabelecer ligações, perceber para onde é que estas sensações o levam, que memórias e imagens lhe despertam, é dar significado/nome/sentido a estas sensações e emoções… E daqui comece a mexer o seu corpo como ele pede para ser mexido, expresse estas sensações e emoções de que se apercebeu ao dar-lhe atenção, mexa-o ao som da música e no fundo ao som de si, é a si que se está a expressar. Deixo-o então com a sua música e com o seu corpo, liberte-se e deixe-se fluir. Tanto nas relações amorosas como nas relações de amizade, surge frequentemente um problema, muitas vezes subtil e pouco consciente, sobre o papel que cada um desempenha na relação no que toca cuidar e/ou ser cuidado.
Muitas vezes sem querer e sem nos apercebermos, cristalizamo-nos num destes papéis – ou somos os cuidadores, ou somos os que recebem cuidado; em vez de fluirmos entre estes dois polos e termos relações equilibradas entre o dar e o receber. Vou debruçar-me especificamente naqueles de nós que temos tendência a adoptar a postura do cuidador. Quais são as características internas do típico cuidador? O típico cuidador tem geralmente, ainda que de forma inconsciente, uma ideia de que só cuidando dos outros e procurando ir ao encontro das necessidades dos outros é que pode aspirar a receber o amor deles. Há uma postura de dar para se sentir merecedor de receber. No entanto, sem querer e sem se aperceber, tendencialmente não sabe receber e, ou fica muito desconfortável e a sentir-se muito vulnerável quando alguém tenta inverter os papéis e devolver-lhe cuidado, ou adopta uma postura de auto-suficiência, que passa a mensagem “não preciso de nada, eu resolvo-mo, nem tentes cuidar de mim”. Quais são as consequências da rigidificação neste papel? Por um lado, habitua os outros ao seu cuidado, cria uma imagem de cuidador que é difícil desfazer, tanto aos olhos dos outros, como no próprio reportório. Com esta imagem de cuidador, sempre disponível para o outro, passa também a imagem que está sempre bem ou que se resolve com facilidade, que é auto-suficiente, sabe bem cuidar de si. Isto acaba por trazer uma sensação imensa de solidão, de desamparo, já que é muito o cuidado que recebemos, e que nos permitimos receber, que nos faz sentir acompanhados, ligados aos outros, e confiantes em nós mesmos. Por outro lado, abre as portas ao ressentimento, porque por maior que seja a sensação de auto-suficiência, somos todos seres eminentemente sociais e relacionais, nalgum momento vai sentir com força a mágoa de não receber na mesma medida em que dá, sem se aperceber que há um lado em que foi o próprio que criou esta imagem de cuidador auto-suficiente, e que reforça esta ideia pela dificuldade em receber e alimentar o cuidado dos outros para consigo. Sair deste estilo não costuma ser fácil, implica um trabalho muitas vezes longo de ir tentando equilibrar o dar e o receber – aprender a dar menos, aprender a receber mais, e acreditar que se merece receber e que se vai receber, assim que se disponibilizar verdadeiramente para tal. Não há problema algum em cuidarmos dos outros, desde que nos saibamos também deixar cuidar. Sim, é verdade, a versão original é “contra factos não há argumentos”; no entanto, a nossa mente é tão poderosa que, por lógico que seja pensar que contra factos não há argumentos, os argumentos que a nossa mente cria tendem a ser difíceis de combater por mais factos que lhe peçamos para considerar.
Se não vejamos, quantas vezes fazemos interpretações das motivações dos outros, por exemplo de não gostarem verdadeiramente de nós, para quando eles explicam o motivo da ausência ou da indisponibilidade, nós acharmos mesmo assim que estão só a ser simpáticos e por mais que neguem no fundo não gostam de nós. Ou por exemplo, quando surge um boato sobre alguém, mesmo que venha a ser desmentido, ficamos sempre com a pulga atrás da orelha e tendemos a ter dificuldade em verdadeiramente voltar a confiar. E ainda outras vezes, no que toca a nós próprios, criamos ideias sobre quem somos e como funcionamos, e quando nos indicam uma característica diferente que vêem em nós, tendemos a defender-nos e ter dificuldade em nos revermos na característica que nos estão a atribuir. O que é que se passa aqui: entre várias razões possíveis para esta dificuldade da mente em desconfirmar ideias pré-concebidas, uma é que temos uma história de desenvolvimento que molda a visão que temos do mundo e das coisas, e que influencia a interpretação que fazemos dos factos. Nós não somos tábuas rasas que se limitam a receber estímulos do exterior e a responder em conformidade e apenas ao estímulo específico, as nossas experiências passadas, as nossas ideias e opiniões, as nossas inseguranças, as nossas peculiaridades, contribuem para fazermos associações de coisas e ideias, de forma que, quando estamos a responder a um estímulo, não estamos apenas a responder a esse estímulo mas a toda uma rede de associações a ele, sejam elas ligações mais próximas ou mais distais, façam elas mais ou menos sentido face ao estímulo específico apresentado. Qual é o antídoto para este mal que nos assola: em primeiro lugar é importante clarificar que não há uma receita única nem nenhuma só por si suficientemente eficaz, no entanto, há alguns cuidados que podemos ter que poderão favorecer cairmos menos vezes neste erro. É importante procurarmos manter um espírito de abertura à informação que recebemos do exterior, e permitirmo-nos verdadeiramente questionar possibilidades alternativas às nossas percepções, aos nossos “argumentos”, ainda que questionando, naturalmente, as motivações e os argumentos dos outros também. E por outro lado, é importante não desconsiderar a importância de “dormir sobre o assunto”, disponibilizarmo-nos para voltar a pensar sobre a questão mais tarde, menos a quente, menos defensivos, com as ideias mais claras e a mente mais aberta. No fundo é importante estarmos abertos a (re)construirmo-nos ou (re)descobrirmo-nos a cada momento, cientes que isso não muda a nossa essência e o nosso valor, mas pelo contrário permite tornarmo-nos mais conscientes e mais coerentes connosco próprios. Espalhou-se pela internet, há uns tempos atrás, esta imagem alusiva à distância entre a nossa zona de conforto e a zona onde a magia acontece. Esta imagem tem alguns problemas: por um lado, dá a ideia de que ou estamos numa zona ou estamos na outra e que há uma distância imensa entre as duas; por outro, não clarifica como é que se passa de uma zona para a outra, passa a ideia de que temos que sair da nossa zona de conforto e dar um salto de confiança para algo absolutamente estranho e desconhecido para que a vida passe a ser como gostávamos que ela fosse; por último, ainda que para os mais aventureiros este salto possa ser estimulante, para o comum dos mortais esta imagem pode trazer uma certa angústia, a sensação de que a distância é demasiado grande e o salto demasiado assustador, nunca conseguirei chegar onde a magia acontece. Por estes motivos, prefiro esta segunda imagem, mais realista, menos angustiante e mais esclarecedora. Nesta imagem compreendemos que para a magia acontecer não temos que sair da nossa zona de conforto e dar um salto no escuro, temos sim que AUMENTAR a nossa zona de conforto para que ela inclua a zona onde a magia acontece. A mudança não tem que passar por uma transformação radical em que deixamos de ser quem somos para passarmos a ser ou a estar num ponto completamente diferente; mudança pode muito bem ser, e é-o a maioria das vezes, um acumular de pequenos ganhos, de pequenas experiências no limiar da nossa zona de conforto, que se vão tornando seguras, sólidas, e nos permitem gradualmente ir mais além. Quando voltar a ver a primeira imagem, não se assuste, acrescente-lhe mentalmente círculos maiores de potencial de crescimento, e acredite, através deles, passo a passo, vai chegar exactamente aonde quer. Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida! António Gedeão Vivemos tempos complicados que dificultam a já por si desafiante tarefa de lutar pelos nossos sonhos e concretizar os nossos objectivos profissionais.
Ainda assim, o nosso bem-estar e a nossa realização pessoal são muito influenciados pela nossa realização profissional, o que torna especialmente importante investir na concretização dos nossos projectos. Há dois grandes passos essenciais a contemplar: 1) é essencial olhar para dentro e perceber o que é que nos move e nos entusiasma; e 2) este passo precisa ser complementado com a análise das oportunidades e desafios do mundo do trabalho no(s) nicho(s) de interesse de cada um. Ainda que seja muito importante analisar as oportunidades e os desafios do mundo do trabalho, este passo não faz sentido sem uma contemplação prévia e cuidada do que nos move e nos realiza. A integração no mercado de trabalho é de facto particularmente difícil actualmente, mas isso não deve ser razão para fazermos escolhas com base mais nas oportunidades imediatas do que nos nossos projectos de vida. É importante colocarmo-nos as questões:
Com estas questões respondidas, posso orientar melhor a minha análise de mercado e o meu posicionamento face a ele, procurar em nichos que de outra forma poderia facilmente esquecer ou desvalorizar, e inclusivamente criar oportunidades de emprego, de encontro aos meus interesses e às necessidades de mercado que a procura motivada me fez descobrir. Não esqueça: ainda que em tempos de crise, não deixe de sonhar! Tendo já escrito sobre o Outono, o Inverno e a Primavera, chegamos agora ao Verão, estação de fruição e relaxamento.
Depois da introspecção no Inverno e concretização e renovação na Primavera, chegamos ao momento de fruir do que já conquistámos, parar para desfrutar, gozar os frutos do nosso esforço, das nossas conquistas. Se pensarmos em duas polaridades de necessidades psicológicas importantes, em que temos de um lado a produção e a exploração, e do outro lado o lazer e a tranquilidade, esta seria a estação para relembrarmos a importância e apostarmos nestas duas últimas necessidades, lazer e tranquilidade. O calor diz-nos “abranda”. A fruta da época diz-nos “saboreia-me”. Vivemos tempos em que tudo parece acontecer muito rápido, e quando fazemos uma conquista já estamos muitas vezes a pensar na próxima. O Verão diz-nos, “não, tem calma, aproveita o que já tens, aproveita o que conseguiste, pára um bocadinho, relaxa”. E aproveite de facto o Verão para relaxar, para dar ao seu corpo e à sua mente um bocadinho de descanso, exagerar nos momentos de prazer e de fruição. Vá à praia. Refresque-se na água do mar. Saboreie calmamente a fruta da época, ou um bom peixe grelhado, uma boa salada. Vá dormir a sesta para o jardim, ouvir um bom concerto de rua. Viaje. Invista no que lhe dá prazer e desfrute. Todos precisamos e merecemos. Escrevi anteriormente sobre a felicidade e entretanto voltou a apetecer-me escrever sobre ela, ainda que continue a não saber o suficiente para o fazer.
E desta vez apeteceu-me reflectir sobre o que é que pode influenciar que umas pessoas pareçam ter mais facilidade em se sentirem tendencialmente felizes, e outras pareçam ter uma dificuldade tremenda em sentir mesmo pequenos momentos de felicidade. No texto anterior sobre este tema referi que viver feliz é viver com significado, com sentido, em coerência com as nossas emoções e as nossas necessidades; voltando a pensar no que é a felicidade e no que é que permite senti-la, acrescentaria duas coisas: Uma seria que sentir felicidade implica ser capaz de experienciar um leque variado de emoções. Esta capacidade dá-nos flexibilidade para nos adaptarmos a situações de vida diversificadas sem nos sentirmos desadequados ou incapazes de reagir, e portanto conseguirmos ver os obstáculos mais como desafios do que como catástrofes. Outra seria que sentir felicidade implica ser capaz de tolerar as próprias limitações, as próprias fragilidades. Esta capacidade permite-nos ver os desafios e as dificuldades como oportunidades de crescimento, algo que ainda posso trabalhar para conseguir, e não algo que me define como um falhado, sem as características necessárias para vingar na vida e "ser feliz". A “felicidade” é quase uma profecia auto-confirmatória, é feliz quem acredita que pode e merece sê-lo, que sabe pôr as limitações e os maus momentos em perspectiva, não se deixa definir por eles. Claro que estas duas capacidades são muito influenciadas pelas nossas experiências de vida. Quem teve cuidadores que souberam lidar com as dificuldades da criança e que souberam estar presentes e dar significado às emoções que ela ia experienciando e expressando, tem a “tarefa” de se sentir feliz mais facilitada; os que pelo contrário tenderam a ficar sozinhos com as suas emoções e a ser depreciados pelas suas falhas ou, pelo contrário, impedidos de falhar, têm naturalmente mais dificuldade em tolerar as suas limitações e em experienciar e dar significado às suas emoções, o que dificulta o conseguir sentir-se feliz, mesmo em situações que os primeiros, mais afortunados, tenderiam a sentir como momentos de felicidade. Ainda que as nossas experiências de vida moldem muito a forma como vivemos, como nos relacionamos com os outros e connosco próprios, elas não têm que ser determinísticas; se teve uma infância mais difícil, de privação emocional, de negligência, de abandono, terá mais dificuldade em ultrapassar este legado de negatividade e fatalismo, será mais duro e possivelmente demorado sentir-se “feliz”, mas é possível, não desista de desenvolver a capacidade de experienciar um leque variado de emoções nem de tolerar as suas limitações, não desista de si. Passados o Outono e o Inverno, chegamos à Primavera, estação da renovação.
Recorda-se da libertação do velho no Outono e da introspecção no Inverno? Pois está na hora de voltar a olhar para fora, trazer para fora o que está aí dentro, esta é a estação. O sol e a brisa agradável puxam-nos para sair, voltarmo-nos para o exterior e inspirarmo-nos nas árvores e nas plantas para também nós renascermos e florescermos. Está na hora de servir à mesa o que cozinhou no Inverno, cuidar das suas necessidades, concretizar os seus projectos. Ao contrário do Inverno, estação de questões e reflexões, esta é uma estação de acções e de afirmações. Já deve ter reparado que o meu tom neste texto é também mais afirmativo, mais directivo. Nesta estação, pegue em si próprio e saia para a rua, feche os olhos e sorria a sentir a brisa na face e o calor do sol na pele, abra os braços e espreguice-se, arregace as mangas e ponha cá para fora o que até agora manteve apenas dentro.
E não se esqueça, cuide de si, renove-se, esta é a estação. |
Autora
Joana Fojo Ferreira Acompanhe as atualizações nas redes sociais
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