JOANA FOJO FERREIRA
  • Home
  • Psicóloga
  • Psicoterapia
    • Psicoterapia Individual
    • Psicoterapia de Casal
  • Supervisão/Formação de Psicólogos
    • Supervisão
    • Formação
  • Blog
  • Podcasts
    • Pausa Psi
    • Hipotenusa da Psicologia
  • Dança Gestalt

Como é que é mesmo isto de pôr limites?

25/10/2016

0 Comments

 
“Estas são as regras do jogo”

Tenho me apercebido com vários pacientes, e mesmo com pessoas da minha vida pessoal, e por vezes eu própria, que a ideia de colocar limites é muito assustadora, traz a ameaça da perda, de magoar o outro a um nível que destrua a relação.
Ainda que os nossos limites possam sim ser incompreendidos pelo outro e por isso fazerem-no sentir-se magoado, e até possam ser prelúdios de um fim se o outro não os souber acolher e respeitar, também é verdade que são os limites, as “regras do jogo”, que nos permitem interagir de uma forma positiva e construtiva, que dá estrutura, segurança, e favorece as relações.

Ao refletir sobre esta dificuldade em colocarmos limites, tem-me surgido que parte dela poderá advir também de uma distorção ou um enviesamento que sinto que fazemos no a quem é que sentimos que os estamos a colocar.
Geralmente o outro sente que lhe estamos a colocar limites a ele, e parece-me que frequentemente compramos esta ideia, quando na realidade estamos, ou deveríamos estar, a colocar limites a nós próprios, o que podendo parecer o mesmo é na realidade bastante diferente e a própria experiência psicológica de o fazer é diferente e em mais do que um sentido.

Quando sinto que estou a colocar limites ao outro sinto que o estou a privar da liberdade dele, quando reconheço que estou a colocar limites a mim próprio percebo que estou a usar da minha liberdade para me proteger ou defender, que é bastante diferente.
Imaginemos uma discussão exaltada e infrutífera com um familiar perante a qual digo “chega, não vou mais alimentar esta discussão hoje”; se achar que estou a colocar um limite ao outro, a minha experiência é tendencialmente bem mais negativa, e a meu ver incorreta, do que se reconhecer que não o estou a impedir a ele mas sim a colocar um limite a mim, sou eu que decido alimentar ou descontinuar a discussão naquele momento.

Apesar de eu ver benefícios no perceber que é a nós, mais do que aos outros, que colocamos, ou deveríamos colocar, limites, este reconhecimento nem sempre é suficientemente motivador; colocarmo-nos limites a nós pode ser tão ou mais difícil do que supostamente os colocarmos aos outros; isto porque temos uma certa tendência para esperar que os outros cooperem e ressentimo-nos quando nos sentimos abusados, advogando que eles deveriam ser mais maduros, mais compreensivos, mais respeitadores, enfim; e esta postura de nos colocarmos limites a nós implica assumirmos que, apesar de podermos ficar magoados ou desiludidos com as atitudes do outro, é nossa responsabilidade acima de tudo tomarmos uma atitude afirmativa e auto-protetora perante os potenciais abusos dele e mantermo-nos fiéis às nossas decisões.

Os limites mais produtivos, ainda que talvez mais difíceis, precisamente pela responsabilidade que acarretam, passam por:

  • Mantermos a consequência que estipulámos para o comportamento desadequado do outro, seja o mau comportamento de um filho, seja uma postura intrusiva ou abusiva de um amigo ou familiar;
  • “Engolirmos” a necessidade de ganhar as discussões lutando ad aeternum para que o outro compreenda o nosso ponto de vista (ele por seu lado também luta para ser entendido, e nesta luta ambos se esforçam por se fazer ouvir e nenhum realmente se disponibiliza para escutar);
  • Mantermo-nos fiéis e respeitarmos as nossas necessidades nas relações que estabelecemos, sejam elas manter uma certa distância quando o outro é demasiado intrusivo, pedirmos explicações quando o outro é pouco claro, repormos a realidade dos factos quando o outro é injusto, e até pôr um fim na interação ou na relação quando o outro repetidamente é desrespeitador, desconsiderante ou tóxico.

Tudo isto aguentando a angústia e o medo que a situação também nos causa a nós (e lá está, essencialmente medo da perda do outro ou do seu amor).

Parece difícil? Talvez porque realmente o seja, mas quando temos a coragem de nos responsabilizarmos e tomarmos as rédeas da nossa vida, colocando-nos os limites que isso implica, tendemos a acabar por nos sentir mais seguros e satisfeitos nas nossas relações, porque contribuímos para elas se tornarem menos caóticas, menos pesadas, mais saudáveis, mais seguras.
0 Comments

Aprendamos a depender!

5/1/2015

2 Comments

 
A ideia de podermos depender tende a ser conflituosa, se por um lado o desejamos, também tendemos a temê-lo com muita força, num misto de medo de nos perdermos a nós próprios e/ou de sufocarmos o outro com as nossas necessidades.

Tenho-me apercebido com os meus pacientes que é difícil para muitos distinguirem a dependência negativa/sufocante da dependência positiva, que promove a ligação e nos faz sentir próximos e acompanhados. Esta indiferenciação fá-los temerem constantemente sufocar o outro, mesmo quando os seus movimentos de aproximação e de conexão são perfeitamente saudáveis e agradáveis ao outro de receber.

Curiosamente, o que tenho percebido entretanto é que, ao contrário do que a lógica nos faria crer, tornamo-nos patologicamente dependentes quando ao longo da nossa história não recebemos dos outros o que precisávamos – é muitas vezes perante “outros” negligentes e não responsivos que tendemos a depender negativamente, sempre à espera do dia em que nos vão dar o que precisamos, sempre a esforçarmo-nos um bocadinho mais para o receber.

Perante “outros” responsivos, capazes de ir ao encontro das nossas necessidades, a dependência é no fundo ligação; a necessidade fica imediatamente satisfeita, não precisamos exigi-la, e isso dá-nos segurança e liberta-nos, é um colo que sabemos que está sempre lá (ou que reaprendemos que podemos confiar), perante o qual não precisamos estar de vigia, ele não vai fugir, ele vai estar lá quando nós precisarmos e ele puder.

E perante este cenário, nem precisamos de deixar de ser nós próprios, nem precisamos sufocar os outros, contamos simplesmente com eles; ligamo-nos a eles e permitimos-lhes ligarem-se a nós.

2 Comments

De onde é que vem a felicidade?

14/6/2013

0 Comments

 
Escrevi anteriormente sobre a felicidade e entretanto voltou a apetecer-me escrever sobre ela, ainda que continue a não saber o suficiente para o fazer.

E desta vez apeteceu-me reflectir sobre o que é que pode influenciar que umas pessoas pareçam ter mais facilidade em se sentirem tendencialmente felizes, e outras pareçam ter uma dificuldade tremenda em sentir mesmo pequenos momentos de felicidade.

No texto anterior sobre este tema referi que viver feliz é viver com significado, com sentido, em coerência com as nossas emoções e as nossas necessidades; voltando a pensar no que é a felicidade e no que é que permite senti-la, acrescentaria duas coisas:

Uma seria que sentir felicidade implica ser capaz de experienciar um leque variado de emoções. Esta capacidade dá-nos flexibilidade para nos adaptarmos a situações de vida diversificadas sem nos sentirmos desadequados ou incapazes de reagir, e portanto conseguirmos ver os obstáculos mais como desafios do que como catástrofes.

Outra seria que sentir felicidade implica ser capaz de tolerar as próprias limitações, as próprias fragilidades. Esta capacidade permite-nos ver os desafios e as dificuldades como oportunidades de crescimento, algo que ainda posso trabalhar para conseguir, e não algo que me define como um falhado, sem as características necessárias para vingar na vida e "ser feliz".

A “felicidade” é quase uma profecia auto-confirmatória, é feliz quem acredita que pode e merece sê-lo, que sabe pôr as limitações e os maus momentos em perspectiva, não se deixa definir por eles.

Claro que estas duas capacidades são muito influenciadas pelas nossas experiências de vida. Quem teve cuidadores que souberam lidar com as dificuldades da criança e que souberam estar presentes e dar significado às emoções que ela ia experienciando e expressando, tem a “tarefa” de se sentir feliz mais facilitada; os que pelo contrário tenderam a ficar sozinhos com as suas emoções e a ser depreciados pelas suas falhas ou, pelo contrário, impedidos de falhar, têm naturalmente mais dificuldade em tolerar as suas limitações e em experienciar e dar significado às suas emoções, o que dificulta o conseguir sentir-se feliz, mesmo em situações que os primeiros, mais afortunados, tenderiam a sentir como momentos de felicidade.

Ainda que as nossas experiências de vida moldem muito a forma como vivemos, como nos relacionamos com os outros e connosco próprios, elas não têm que ser determinísticas; se teve uma infância mais difícil, de privação emocional, de negligência, de abandono, terá mais dificuldade em ultrapassar este legado de negatividade e fatalismo, será mais duro e possivelmente demorado sentir-se “feliz”, mas é possível, não desista de desenvolver a capacidade de experienciar um leque variado de emoções nem de tolerar as suas limitações, não desista de si.
0 Comments

Sobre os legados que nos pesam

13/3/2013

0 Comments

 
Nós somos o que fazemos do que quiseram fazer de nós
Adaptado de Jean-Paul Sartre

Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou?... é uma sequência de questões que apela para a continuação de uma identidade ao longo do tempo – um presente impelido por um passado e a caminhar para um futuro.
E de facto nós somos muito fruto das nossas histórias e vivemos muito também em função dos nossos projectos, pelo que o passado e o futuro tendem a estar connosco no presente.

O que acontece é que muitas vezes a nossa história condiciona a nossa capacidade de no presente nos mobilizarmos para a concretização dos nossos projectos de futuro, e damos por nós numa posição de termos que escolher continuar os legados do passado ou investir nos projectos para o futuro.
A escolha não é fácil, geralmente o desejo é investir no futuro, investir em nós, nos nossos projectos, mas a pressão, exterior e interior, é para continuar os legados do passado. Queremos diferenciar-nos e seguir os nossos passos, mas temos medo de perder a aceitação e o amor das figuras do passado que nos acompanham no presente, ainda que não nos identifiquemos com o que elas parecem desejar para nós.

Ainda que duro, nós somos de facto o que fazemos do que quiseram fazer de nós; ainda que difícil, a escolha do passado ou do futuro, dos que nos antecederam ou de nós próprios, dos nossos projectos, é sempre nossa.

E ainda que a escolha do passado seja sempre uma possibilidade, deixo-vos o Cântico Negro de José Régio que tão bem nos diz “Não vou por aí!”

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
 
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
 
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
 
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

0 Comments

    Autora

    Joana Fojo Ferreira
    Psicóloga Clínica

    Psicóloga Joana Fojo Ferreira
    Acompanhe as atualizações nas redes sociais

    Ou receba cada novo post no seu e-mail introduzindo o seu endereço de e-mail abaixo

    Enter your email address:

    Delivered by FeedBurner


    Arquivo

    Clique em arquivo para aceder à lista de textos publicados.

    Categorias

    Tudo
    Ansiedade
    Depressao
    Desenvolvimento Pessoal E Relacional
    Dicionário De Conceitos
    Dificuldades De Adaptacao A Mudancas E Novas Situacoes De Vida
    Dificuldades Na Tomada De Decisoes
    Dificuldades Relacionais
    Mindfulness
    Problemas Conjugais
    Problemas Emocionais
    Problemas Familiares
    Processo Terapeutico
    Realização Profissional
    Reflexoes Para Psicologos


    Arquivos

    Setembro 2022
    Maio 2021
    Maio 2020
    Setembro 2019
    Fevereiro 2019
    Março 2018
    Setembro 2017
    Fevereiro 2017
    Outubro 2016
    Março 2016
    Setembro 2015
    Maio 2015
    Janeiro 2015
    Agosto 2014
    Abril 2014
    Fevereiro 2014
    Janeiro 2014
    Dezembro 2013
    Outubro 2013
    Setembro 2013
    Julho 2013
    Junho 2013
    Abril 2013
    Março 2013
    Fevereiro 2013
    Janeiro 2013
    Dezembro 2012
    Novembro 2012
    Outubro 2012
    Setembro 2012
    Agosto 2012
    Julho 2012
    Junho 2012
    Maio 2012
    Abril 2012
    Março 2012
    Fevereiro 2012
    Janeiro 2012
    Dezembro 2011
    Novembro 2011
    Outubro 2011

    Feed RSS

Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • Home
  • Psicóloga
  • Psicoterapia
    • Psicoterapia Individual
    • Psicoterapia de Casal
  • Supervisão/Formação de Psicólogos
    • Supervisão
    • Formação
  • Blog
  • Podcasts
    • Pausa Psi
    • Hipotenusa da Psicologia
  • Dança Gestalt